A Galeria Municipal de Arte e o Núcleo Museológico da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos uniram-se para acolher a relevante e importante exposição de pintura e poemas “Memografismo da Imagem e da Palavra”, de Moita Macedo.
A inauguração está agendada para o próximo sábado, 14 de dezembro, às 16h30 e 17h30, e a exposição vai estar patente ao público até ao dia 22 de março de 2025.
Quem visitar esta exposição vai encontrar um vastíssimo conjunto de obras, da autoria do pintor Moita Macedo, artista de enorme relevância no panorama das artes em Portugal.
No catálogo da mostra, a curadora Cláudia Milhazes revela que “apreender a obra de Moita Macedo revelou-se uma imersão profunda no universo conceptual e plástico deste artista singular, cuja sensibilidade inata e espiritualidade transbordante impregnam cada criação”.
Ao longo da sua trajetória artística, Moita Macedo (1930-1983) estabeleceu um fecundo e multifacetado diálogo entre a pintura, o desenho e a poesia, conferindo à sua obra uma riqueza expressiva que o distingue no meio artístico nacional. Assim como António Pedro, Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas, Moita Macedo explorou profundamente a relação entre imagem e palavra, integrando essas linguagens de maneira única. Esta simbiose, presente em cada uma das suas criações, permite-lhe um lugar de destaque no panorama cultural português, fruto de uma incessante busca por um ideal estético que transcende fronteiras disciplinares.
Moita Macedo, com perspicácia ímpar, definiu a sua obra como um veículo de expressão e libertação — um processo através do qual memórias, emoções e reminiscências afloram do subconsciente para se cristalizarem em imagem e palavra. A este processo, o próprio artista conferiu a designação de “memografismo”, uma espécie de cartografia emocional.
A pintura e o desenho de Moita Macedo são marcados pela distorção deliberada das formas e pela gestualidade intensa, traduzida em traços compulsivos que flutuam entre o onírico e o real. As suas técnicas gestuais, impregnadas de uma profunda carga emocional e subjetiva, resultam em composições arrebatadoras.
O artista utilizou uma ampla gama de materiais — grafite, carvão, tinta da China, óleo e acrílico — aplicados sobre suportes diversos, como papel, tela, cartão e metal, muitas vezes conjugados em técnicas mistas. Esse ecletismo técnico confere às suas obras uma complexidade visual notável.
As cores, intensas, estruturam-se em camadas sobrepostas que geram um relevo pictórico distintivo. Embora predominantemente abstratas, as suas criações insinuam uma espécie de diário visual, refletindo memórias pessoais que dialogam de forma íntima com a sua produção poética, também marcada por um lirismo introspetivo.
“Memografismo da Imagem e da Palavra” convida os visitantes a uma jornada cronológica e temática através da vasta produção artística de Moita Macedo. As suas criações distinguem-se pela expressividade técnica e pela incessante experimentação, que remetem às correntes do expressionismo abstrato e do informalismo.
A fusão entre palavra e imagem é um elemento central na obra de Moita Macedo, que costumava referir-se a esse processo como “pintar versos, escrever quadros”. Tal definição sublinha a simbiose entre as duas linguagens artísticas, evidenciada tanto na cadência dos poemas quanto na dramaticidade das telas.
Os temas abordados nas obras selecionadas — Cristos, Cidades, Figuras Humanas, Caravelas, D. Quixotes, Tauromaquia e o abstracionismo puro — permeiam toda a sua produção, desafiando a linearidade cronológica e temática. Essa multiplicidade criativa, exposta em dois espaços distintos — o Núcleo Museológico da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos e a Galeria Municipal de Arte de Barcelos —, oferece uma visão abrangente e integrada da sua obra.