Abriu ao final da tarde do dia 10 de janeiro, na Sala da Capela do Museu de Olaria, a exposição “O Atelier sem o seu artista: uma ode a Francisco Félix”.
Francisco Félix (1933-2021) foi uma figura multifacetada, autor conhecido por criar peças de artesanato únicas. Dedicou-se a produzir diversas peças de decoração, nomeadamente o Galo de bico aberto, tão característico, mas também os coretos, os músicos, os presépios, e as estatuetas.
A presente exposição faz uma retrospetiva do ateliê, da obra, e o que ficou por terminar de uma vida toda dedicada à arte, através das imagens capturadas por João Falcão, nos últimos dois anos, após a partida de Francisco, seu avô.
Cada imagem revela as peças inacabadas, os espaços agora vazios, os utensílios que ainda guardam a sua marca, e até o par de sapatos com que trabalhava e que permanece como um eco silencioso da sua presença. A exposição leva-nos a conhecer as peças que compõem o seu legado, cada obra é mais do que argila moldada; é a expressão da criatividade de Francisco Félix que transcende o tempo e a ausência física.
No coração da exposição, encontramos as peças que Francisco deixou por concluir. São promessas por cumprir, formas que aguardam a transformação no calor do forno.
O Atelier sem o seu Artista” é mais do que uma mostra de arte, é uma celebração do processo criativo que transcende a vida de Francisco Félix. Pode visitar a exposição de terça-feira a sexta-feira, das 10h00 às 17h30; aos sábados, domingos e feriados, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30.
Biografia
Francisco Esteves Araújo, conhecido como Francisco Félix, nasceu em Galegos Santa Maria, Barcelos, a 5 de dezembro de 1933, sendo o terceiro de dez filhos.
Era filho de Félix da Costa Araújo e de Maria de Jesus Esteves e afilhado de batismo do mestre oleiro, Francisco de Sousa (Francisco do Monte), de Areias de S. Vicente, Barcelos.
Francisco Félix cresceu numa família com tradição na cerâmica e acompanhou, desde muito novo, os seus pais na produção e venda de cerâmica em feiras por todo o país, nomeadamente nas regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro e nas Beiras. O facto de ter passado grandes temporadas fora deu-lhe a oportunidade de conhecer diferentes realidades e desenvolver uma perspetiva única, distinta da dos seus conterrâneos.
Aos 26 anos, casou-se com Maria Zulmira Fonseca Falcão e estabeleceu a sua própria oficina no lugar de Aldeia, em Galegos Santa Maria. Foi aqui que criou diversas peças, incluindo o seu distinto “Galo de bico aberto”. Posteriormente, e devido ao falecimento do seu sogro, trabalhou na fábrica familiar “Sociedade Decorativa de Louças de Barcelos, Lda.” em Manhente, que se dedicava ao fabrico e venda de cerâmica decorativa para todo o país e para exportação. Durante esse período, Francisco tornou-se responsável pela produção de peças decorativas, nomeadamente a modelagem, e pelo fabrico dos moldes, colaborando com diversos artistas nacionais e da Galiza, sendo muito procurado para concretizar os esboços de peças desses mesmos artistas.
Nos seus raros tempos livres, dedicava-se ao artesanato, especialmente à roda, produzindo “caretos” e cabeçudos. Quando se aposentou, criou o seu próprio ateliê, onde continuou a criar peças únicas. Com a ajuda da sua esposa, especialista em pintura, dedicou-se então à produção de peças de decoração, nomeadamente o Galo de bico aberto, tão característico, mas também os coretos, os músicos, os presépios, e as estatuetas. Também, desde essa altura, utilizou o vidrado, nomeadamente em peças utilitárias, técnica que aprendeu enquanto muito jovem, na casa da sua avó paterna.
Mais tarde, e por solicitação da Câmara Municipal de Barcelos, fez vários workshops de pintura cerâmica para turistas e visitantes da cidade, nas instalações dos Serviços de Turismo.
Por todo o trabalho realizado em prol do artesanato de Barcelos, a Câmara Municipal prestou-lhe homenagem postumamente.
Francisco Félix foi, sem dúvida, um artesão talentoso, que contribuiu significativamente para a promoção e preservação da tradição figurativa em Barcelos, tendo colaborado com outros artistas e deixado um legado duradouro no mundo do artesanato.