Certo dia no final da tarde aproximava-se do Mosteiro de São Pedro de Rates um carro puxado por uma junta de bois. Os dois lavradores, pai e filho, pretendiam, chegar ao nascer do dia à Feira de Barcelos, com os produtos que levavam no carro.
Ao passar junto de uma pequena estalagem, para dar de comer aos animais e beberem uma malga de vinho, encontraram peregrinos que aí pretendiam pernoitar antes de se lançarem ao caminho de Barcelos e de Santiago. Como a noite caía o estalajadeiro perguntou-lhes se ali dormiam e perante a resposta negativa, avisou-os para terem cuidado em aventurarem-se de noite pelos caminhos que passavam no Alto da Mulher Morta. Curiosos perguntaram o que de mau havia por aquelas paragens:
- É carneiro preto que por lá aparece fora de horas. Um dia morreu ou por lá mataram uma mulher e desde então é sitio excomungado.
Os dois lavradores não eram medrosos e avançaram caminho e noite dentro. Ao avistar o pinhal do desassossego puseram-se em frente aos bois que começavam a dar sinal de inquietação. Metros andados, estacaram e por mais tentativas, simplesmente não se mexiam. De repente, viram o carneiro preto no meio do caminho, com pelo sedoso, escuro, narinas fumegantes e olhar fixo nos intrusos.
- E agora? - exclamou o filho.
- Não ouviste o vendeiro? Acalma-te, eu trato deste estafermo.
O velho lavrador bradou em voz forte:
“Água benta de sete bicas
Água de sete fontes
Sangue de sete galinhas pretas
Terra de sete sepulturas
Padre Nosso. Avé Maria”
Mal o velho acabou as últimas palavras, um enorme estrondo ribombou na pacatez do pinhal. O carneiro desatou à desfilada monte dentro e no ar ficou um cheiro a enxofre.
- Desta livramo-nos nós! - disse o pai – Com a benção de Deus.
E seguiram para a Feira em Barcelos.
Na volta construiram um Tosco Cruzeiro de pedra no local onde tudo tinha acontecido e desde essa altura nunca mais por ali apareceu o carneiro preto.