Os temas apresentados centraram a atenção dos participantes para um novo olhar sobre a agricultura, um sector que atravessa sérias modificações, aos níveis da sua sustentação, revitalização e até posicionamento de mercado em torno de um novo nicho de interesse como é o caso da Agricultura Biológica.
Agricultura Biológica – Modo de Preparação
Nos últimos anos a agricultura biológica tem alcançado uma posição de destaque, resultante da crescente preocupação relativa à segurança alimentar e pelos impactes ambientais associados à agricultura convencional. Na União Europeia, a agricultura biológica é já um sector bastante dinâmico com um desenvolvimento anual de cerca de 25%.
A agricultura biológica é diferente da agricultura tradicional e é muitas vezes referenciada como Modo de Produção Biológico (MPB) uma vez que se refere à produção animal e vegetal. Embora faça uso de antigos métodos da agricultura tradicional, como a compostagem da matéria orgânica e o uso de adubos verdes, privilegiando os recursos renováveis e a reciclagem de materiais, apoia e aplica técnicas inovadoras, como a mobilização mínima do solo, as armadilhas com feromonas, insectos para combater pragas, preparados à base de extractos de plantas e minerais para combater doenças, máquinas agrícolas com baixo impacto ambiental, etc.
O processo de produção de bens alimentares biológicos é certificado do início ao fim. As sementes são biológicas, sem qualquer manipulação, e não as do circuito normal. Os fertilizantes são todos naturais e biológicos, muitos oriundos da compostagem. Os produtos têm o seu ciclo de crescimento natural, pelo que se apresentam com outros sabores e aspecto.
No modo de produção biológico (MPB), são respeitados os mecanismos ambientais de controlo de pragas e doenças, na produção vegetal e criação de animais. Os alimentos produzidos em modo biológico são livres de fertilizantes e pesticidas químicos utilizados na agricultura convencional (em particular nas grandes monoculturas intensivas).
O MPB visa estabelecer um equilíbrio entre práticas agrícolas adequadas à preservação do solo e uma utilização equilibrada de recursos. Em última análise, procura a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, com repercussões do ponto de vista económico, social e ambiental.
As práticas tipicamente usadas em MPB incluem:
Rotação de culturas, como um pré-requisito para o uso eficiente dos recursos locais
Proibição do uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, de antibióticos, aditivos alimentares e auxiliares tecnológicos, e outro tipo de produtos
Proibição absoluta do uso de organismos geneticamente modificados
Aproveitamento dos recursos locais, tais como o uso do estrume animal como fertilizante ou alimentar os animais com produtos da própria exploração
Escolha de espécies vegetais e animais resistentes a doenças e adaptadas às condições locais
Criação de animais em liberdade e ao ar livre, fornecendo-lhes alimentos produzidos segundo o modo de produção biológico
Utilização de práticas de produção animal apropriadas a cada espécie
No concelho de Barcelos, o modo de produção biológico toma já alguma expressão, contando-se alguns produtores creditados que produzem hortícolas e frutícolas.
Site Naturlink – A Agricultura Biológica
Por António Mantas, SATIVA
Depois de muitas décadas de intensificação agrícola, com importantes prejuízos ambientais, a agricultura biológica tenta ser uma aproximação da agricultura à ecologia recuperando técnicas tradicionais.
“Seja nosso cuidado conhecer previamente os ventos e o clima de um lugar; as culturas usadas na região e a natureza dos terrenos; que frutos cada região produz e quais cada uma recusa. E não contentes com a autoridade dos agricultores, anteriores ou actuais, desenvolveremos nossos próprios métodos e tentaremos novas experiências”
Dos trabalhos do Campo de Lucio Júlio Moderato Columela, Séc. I
A passagem da técnica da recolha itinerante de alimentos para suprimir as necessidades alimentares, para a técnica do cultivo provocou alterações profundas no modo de vida dos povos, pois levou ao sedentarismo, à estruturação social em crescente de complexidade, às trocas e ao comércio, e a novas ocupações fora da agricultura ou da obtenção de alimentos.
A agricultura actua sobre o meio alterando as relações entre os seres vivos e permitindo a obtenção de recursos de natureza diversa, nomeadamente alimentares. Esta alteração, levada a cabo pelo Homem em proveito próprio, pode ser feita de forma mais ou menos intensiva, com maior ou menor respeito pelos equilíbrios naturais, com maior ou menor grau de protecção e melhoria do meio e da qualidade de vida.
Durante muito tempo as técnicas utilizadas respeitaram o solo, a fertilidade, a diversidade e a qualidade das produções, seleccionando e/ou domesticando variedades e raças. Face a novas tecnologias, desde o início do século, mas sobretudo nas últimas décadas, conseguiram-se obter produções muito elevadas com elevadas utilizações de recursos disponíveis, sem limitações nos impactos negativos deste tipo de actuação, algumas vezes irreversíveis ou de difícil recuperação, isto é, actuou-se de forma não sustentável.
Com o objectivo de contrariar esta forma produtivista, surgiu uma forma de agricultura alternativa que tende a aproximar a agronomia da ecologia, recuperando técnicas e práticas tradicionais, mas tendo presente algumas das novas tecnologias. A agricultura biológica é um sistema de produção que visa a manutenção da produtividade do solo e da cultura, para proporcionar nutrientes às plantas e controlar as infestantes, parasitas e doenças, com utilização preferencial de rotações de culturas, adição de sub-produtos agrícolas, estrumes, leguminosas, detritos orgânicos, rochas ou minerais triturados e controlo biológico de pragas, evitando-se assim o uso de fertilizantes e pesticidas de síntese química, reguladores de crescimento e aditivos nas rações.
Num solo sem cultivo a evolução ao longo do tempo faz parte do processo de sucessão ecológica, isto é, do aumento progressivo de organização que se dá nos ecossistemas naturais. Uma vez alcançadas as condições de equilíbrio o solo funciona como reserva nutritiva. O equilíbrio entre os diferentes organismos do solo e a sua interacção com a matéria orgânica e com as partículas minerais, implica a formação de estruturas organo-minerais que estabilizam a humidade e regulam a libertação de nutrientes para as plantas. Quando um solo é utilizado em agricultura de forma mais intensiva, os equilíbrios modificam-se e as estruturas degradam-se, empobrecendo-o.
As técnicas utilizadas em agricultura biológica implicam uma boa percepção do meio envolvente à exploração que se efectua, nomeadamente:
– Construção e manutenção da fertilidade do solo: funcionando o solo como um organismo vivo, pelo que deve ser nutrido de forma a que as plantas que nele se desenvolvem encontrem boas condições e para que não diminua a actividade dos organismos benéficos essenciais à decomposição e mineralização dos detritos orgânicos que originam o húmus. A melhor forma de nutrir o solo é fornecendo-lhe matérias orgânicas que constituem a base da fertilização. Estas incorporações enriquecem o solo em húmus cuja degradação fornece à planta elementos minerais e substâncias fisiologicamente activas. Eventualmente, podem ser fornecidos ao solo alguns outros complementos minerais. Este ciclo faz com que se forme um solo estável, com libertação gradual de compostos para as plantas e enriquecimento de outros, sem perdas por lixiviação, tendo importante papel os organismos vivos do solo.
– Preservação da estrutura do solo: Com a diminuição da fertilidade há degradação da estrutura e favorece-se a erosão. A matéria orgânica possibilita a formação de agregados de partículas minerais e orgânicas, aumentando a estabilidade e a permeabilidade ao ar e à agua, originando-se uma melhor estrutura.
– Utilização de técnicas de cultivo adequadas: O desequilíbrio provocado pela agricultura pode ser compensado por meio de técnicas importantes, como sejam o fornecimento de estrumes, realização de rotações, manutenção de resíduos, sementeira nos limites das parcelas e segundo as curvas de nível, manutenção de um pH correcto e fornecimento de correctivos minerais, realização de mobilizações em épocas correctas e sem inversão de horizontes, utilização de adubos verdes e incorporação de restolhos, etc..
São igualmente técnicas adequadas o controlo biológico de pragas e doenças e a utilização de recursos locais (variedades regionais ou raças autóctones).
Uma exploração agrícola em agricultura biológica deve tentar conciliar a existência de agricultura e pecuária. Os animais têm um importante papel na produção de estrumes e consomem resíduos que de outra forma se perderiam, permitindo ainda a utilização de zonas que não teriam aproveitamento.
II Mostra de Produtos Biológicos
Os Claustros dos Paços do Concelho de Barcelos receberam a II Mostra de Produtos Biológicos, com as participações de Biocelos, Campo da Agra, APACI, Seara Nova, Agrobio, Casa da Reina, Agros e Biosótis.