A homenagem começou com o descerramento de uma placa evocativa na Quinta e Casa de Chapre, em Midões, onde nasceu, viveu e morreu António Gomes Pereira. A cerimónia contou com a presença da vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Barcelos, Elisa Braga, que destacou a importância desta iniciativa no contexto da cultura barcelense. Manuela Ascenção Correia, falou em nome dos familiares, que também marcaram presença nesta cerimónia, para agradecer ao Município a homenagem e referir a influência que o padre António Gomes Pereira teve na família e na freguesia de Midões.
Seguiu-se uma romagem ao cemitério, tendo a vereadora Elisa Braga, acompanhada por familiares, depositado uma coroa de flores junto do túmulo de António Gomes Pereira.
À tarde, na Biblioteca Municipal de Barcelos, a vereadora do pelouro da Educação, Armandina Saleiro, inaugurou uma exposição iconográfica e documental e presidiu a uma conferência sobre o homenageado, por António Júlio Limpo Trigueiros.
O conferencista sublinhou o trabalho desenvolvido por António Gomes Pereira, afirmando: “estamos a homenagear um barcelense e um dos mais importantes etnógrafos portugueses, da escola de Leite de Vasconcelos”. António Trigueiros referiu ainda que foi com base naquele etnógrafo que Teotónio da Fonseca, familiar de Gomes Pereira, escreveu “Barcelos Aquém e Além Cávado”.
A vocação de etnógrafo e linguista terá despertado quando Gomes Pereira frequentava em Lisboa o curso superior de Letras. Nessa altura deslocava-se muitas vezes à Biblioteca Nacional, onde conheceu o arqueólogo e etnógrafo José Leite de Vasconcelos, fundador do primeiro Museu Etnográfico do país, que o terá animado a escrever sobre as “Tradições Populares e Toponímia de Barcelos”.
Biografia
António Gomes Pereira nasceu na Casa de Chapre, em Midões, em 30 de setembro de 1859 e faleceu na referida Casa, em 6 de abril de 1913, vítima de tuberculose.
Publicou vários trabalhos sobre etnografia, folclore e toponímia das regiões de Barcelos, Esposende, Guarda, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Terras de Bouro, a maior parte dos quais na revista “Lusitana”. Muitos deste trabalhos foram, depois, publicados em livro, entre os quais, “Tradições Populares, Linguagem e Toponímia de Barcelos” (1915). Publicou ainda uma Selecta de Literatura (1ª edição-1908 – 2ª edição-1912), que foi muito difundida na sua época.
A sua valiosa Biblioteca, com predominância de escritores portugueses e de humanistas estrangeiros, foi doada, parte à Biblioteca do Liceu Rodrigues de Freitas (autores dos séculos XVI a XVIII) e outra parte aos seus amigos, dois dos quais de Esposende, José da Silva Vieira –editor das suas obras e o Dr. Sousa Ribeiro, bem como à Biblioteca do Seminário do Porto.
A Câmara Muncipal de Barcelos instituiu, em 1964, um prémio com o seu nome para galardoar o melhor trabalho em etnografia.
Fez a instrução primária na Escola do Sobreiro da freguesia de Adães. Depois de ter feito os preparatórios liceais em Braga, matriculou-se, em 1 de Outubro de 1878, no Curso Teológico, no Seminário de S. Pedro. Concluídos os estudos teológicos em 1881 e, admitido às ordens sacras, é ordenado presbítero, em 23 de Setembro de 1882, pelo arcebispo D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa. Celebrou a primeira Missa Nova, na Igreja Paroquial de Midões, em 22 de Outubro de 1882.
Em 1889, matriculou-se no Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa, depois de ter sido professor no Colégio da Formiga, em Ermesinde e coadjutor do pároco de Valongo. Aqui teve oportunidade de contactar com vários intelectuais, entre os quais o Dr. José Leite de Vasconcelos, adquirindo a paixão pela etnografia e folclore. Concluídos os estudos universitários, permaneceu ainda mais quatro anos na capital, tendo sido subdirector, perfeito e professor nas Oficinas de S. José.
Abalado na sua saúde pelo excesso de trabalho, deixou Lisboa, em Junho de 1896, e regressou à sua terra natal-Midões, onde durante dois anos foi pároco.
Depois de habilitado para o efeito, ingressa, em 1898, no ensino oficial, como professor de Latim e de Português, no Liceu de Vila Real e, a partir de 1902, no Liceu D. Manuel II (actual Rodrigues de Freitas), no Porto, onde se manteve até a meio do ano lectivo de 1909/1910. É nesta cidade que elabora a maior parte das suas obras e alcança notoriedade.