A construção da imagem turística do país, cuja identidade era marcada pela sabedoria, honestidade e simplicidade, passou, forçosamente, pelas figurinhas de barro que eram, e continuam a ser, a expressão artística mais forte desta região do Minho. Estas passam a ser uma presença constante na política cultural e folclórica do Estado Novo.
Neste sentido, imperdoável seria, de entre as várias figuras representativas do figurado de Barcelos, não falar do lendário Galo. Lendário porque, ao que a história indica, este ícone advém da interessante lenda popular que transporta Barcelos à época medieval, e que conta a epopeia de um peregrino a caminho de Santiago de Compostela, que foi salvo miraculosamente da forca, graças a Santiago, quando o cantar de um galo se fez ouvir de forma surpreendente. História de fácil entendimento popular e do qual emanou um símbolo de fácil interpretação.
Assim, no lento processo de ascensão turística do país, a olaria de Barcelos e a imagem do Galo, que já havia alcançado o respeito e o favoritismo de muitos anónimos e de notáveis artistas naquela região, fez, pela primeira vez, uma espécie de estreia internacional, em Genebra, na Exposição de Arte Popular Portuguesa, no ano 1935. Um ano mais tarde, esta exposição repete-se, em Lisboa, com um extraordinário sucesso.
É com mais convicção que, a partir das décadas de 50 e 60, o Galo de Barcelos se transforma em símbolo do turismo nacional e ícone de identidade de uma nação.
Na insistente tentativa de valorizar, preservar e dar a conhecer as formas tradicionais da arte do povo português e os símbolos de identidade etno-históricos, tais como, o artesanato, que o SNI, a partir desta década, inicia uma sucessão de acontecimentos, dentro e fora do país, tendo como base de acção o sector do turismo.
O Galo de Barcelos torna-se uma presença constante em certames e eventos promocionais. Aparece como imagem principal dos cartazes turísticos que promovem o Portugal do folclore, das tradições, das paisagens verdes, do sol e praia e da hospitalidade das suas gentes. Passou a ser impossível visitar Portugal sem levar na mente aqueles galinhos que, constantemente, apareciam nas montras das lojas, ou na bagagem, como souvenir representativo de uma cerâmica de carácter inconfundível.
A própria cidade de Barcelos cresceu graças a esta figura de barro, que todas as quintas – feiras, naquela que ainda é a maior feira tradicional do norte de Portugal, alcançava o seu expoente máximo, embelezando as bancas dos feirantes e enchendo de orgulho os nobres artesãos que, genuinamente, elaboravam um símbolo nacional.
Galo este que é garrido e colorido, multifacetado no porte e nas formas, testemunho do Portugal das diferenças culturais e da variedade etnográfica, mas uno como nação com uma história e herança culturais das mais significantes da Europa. Artefactos estes que encerram no Galo o composto para ser um excelente registo de marketing.
A partir dos anos 80, o Galo encerra toda a sua grandeza de imagem identitária, todavia, desliga-se do contexto etno – político que o elevou a símbolo turístico de Portugal, sustentado no Portugal popular. O seu poder, enquanto símbolo turístico, ultrapassa o contexto que o forjou e reinventa-se como símbolo de um país que, acima de tudo, oferece ao mundo “Liberdade”.
A imagem do Galo de Barcelos surge, nesta altura, associada a um Portugal moderno, empenhado na sua universalização, enquanto destino turístico, e assume-se, definitivamente, como símbolo de identidade nacional, ultrapassando as fronteiras do concelho que lhe deu o nome.