Lendas de Barcelos

  1. Lenda do Galo de Barcelos

    Ao cruzeiro setecentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico de Barcelos, está associada uma curiosa lenda - A Lenda do Galo de Barcelos.

    ”.......... Os Habitantes do Burgo andavam alarmados com um crime e, mais ainda, por não ter descoberto o autor. Certo dia, apareceu um Galego que se tornou de imediato suspeito do dito crime, visto que ainda não tinha sido encontrado o criminoso. As autoridades condais resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém o acreditou. Ninguém julgava crível que o galego se dirigisse para Santiago de Compostela em cumprimento de uma promessa como era tradição na época, e fosse devoto fiel de S. Paulo e da Virgem Santíssima. Por isso foi condenado à forca. Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o havia condenado a tal destino. A autorização foi-lhe concedida, e levaram-no à presença do dito magistrado, que nesse momento se deleitava e banqueteava com os amigos. O galego reafirmou a sua inocência, e perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que se encontrava no centro de uma grande mesa, exclamando «É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem»», perante gargalhadas e risos, não se fizeram esperar, mas pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível aconteceu. Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo ergueu-se na mesa e cantou! Após tal acontecimento mais ninguém duvidava da inocência do Peregrino. O Juiz correu à forca e com espanto vê o pobre homem de corda ao pescoço, mas o nó lasso, impedindo o estrangulamento. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz. Volvidos alguns anos, voltou a Barcelos e fez erguer um Monumento em Louvor à Virgem e a Santiago.....”

  2. Lenda do Milagre das Cruzes

    Em 1504, sob o reinado de D. Manuel I, numa sexta-feira, dia 20 de Dezembro, por volta das 9 horas da manhã, o sapateiro João Pires regressava da missa da ermida do Salvador. Ao passar no campo da feira de Barcelos, observou na terra uma Cruz de cor preta. Como não quis guardar só para si aquilo que considerou ser um sinal sagrado, alertou o povo, que depressa veio ao local.

    As cruzes apareciam sob a forma de uma nódoa negra que ia crescendo até se formar uma cruz perfeita, em que a cor não ficava só à superfície, mas penetrava em profundidade na terra. Por mais que se cavasse, sempre se achava.

    O “milagre da cruz” originou uma forte devoção popular. Nesse mesmo ano, no local de aparecimento da cruz, foi erguido um cruzeiro em pedra com as dimensões da cruz miraculosamente aparecida. O fervor religioso que gerou foi tal que a população o demonstrou com procissões e ofertas. Estas iriam ser aplicadas na construção de uma ermida logo no ano seguinte – 1505, para a qual um rico comerciante de Barcelos ofereceu a imagem flamenga do Senhor da Cruz.

    A imagem do Senhor da Cruz é uma imagem de tamanho quase natural, de madeira de carvalho, dos inícios do século XVI. Apenas o rosto e as mãos estão pintadas.

  3. Lenda das 'cruzes irmãs'

    Para além das lendas anteriormente relatadas, existe ainda uma outra relacionada com o Milagre das Cruzes.

    Em tempos muito remotos, países protestantes do norte lançaram nas águas revoltosas e salgadas do mar três imagens do Senhor dos Passos. Arrastadas pelas ondas e correntes, as imagens foram ter a diferentes localidades do nosso país – uma teria aparecido em Matosinhos, outra na praia de Fão e a terceira, abandonando o mar e penetrando nas águas doces e então límpidas do Cávado, teria subido o rio dando à margem em Barcelos. Depois... olhos atentos, observadores, a viram! Mãos piedosas a recolheram e transportaram para a ermida do Senhor da Cruz.

    Lenda, crença ou realidade o facto é que esta versão traçou alguns laços de irmandade entre as populações de Barcelos, Matosinhos e Fão e que originou o canto popular que se segue:

    “O Senhor de Matosinhos

    Mandou dizer ao de Fão

    Que dissesse ao de Barcelos

    Que eram todos irmãos”

    “ O Bom Jesus de Barcelos

    Escreveu para o de Fão

    E o de fão para o de Matosinhos

    Que todos Três são irmãos”

    Tendo como base de suporte a lenda das "cruzes irmãs”, acredita o povo que a imagem recolhida nas águas do rio jamais poderá ser retirada do local onde fora colocada. Assim crendo, o povo barcelense mandou esculpir em Roma, em 1875, uma outra imagem representando o Senhor dos Passos, cuja autoria se atribui a um escultor italiano de seu nome Jeuseppe Berardi.

  4. Lenda acerca da Ponte

    O povo na ingénua crendice atribuía à ponte sobre o Cávado virtudes obstétricas ou, mais claro, concessão de facilidade e segurança nos partos.

    “......Era em seu entender, castigo, praga ou má olhadura, de pessoas malfazejas, o caso de certas mulheres não vingarem capazmente os frutos do seu ventre. Estes desde que as mães fossem vitimas de tais malefícios, durariam pouco, após o nascimento. Era certo que logo nos primeiros dias de lactação, iriam para os anjinhos. Verificado o caso de uma vez para outra, resolvia-se proceder a um batismo especial. Em vésperas de novo parto, o homem e a mulher dirigiam-se à ponte, esperando aí até ao bater da meianoite. Nessa hora azada, convidado o padrinho, o primeiro transeunte, procediam, servindo-se de um ramo de oliveira e de água comum, à espersão do ventre materno.

    Posteriormente acreditava-se que a criança viria a nascer robusta e saudável, atingindo infalivelmente a idade proveta se passasse os 80 anos, o que aliás acontecia sempre que fizesse boas digestões durante 30 mil dias. É só fazer os cálculos.....”

  5. Lenda do Barbadão

    A figura gravada em pedra representando uma cara com grandes barbas e umas mãos puxando por elas, que se situa na torre virada a Sul do Solar dos Pinheiros, logo debaixo da cornija do telhado, virada ao Palácio dos Duques, tem associada a si uma simbologia que se reveza em duas vertentes, fruto do imaginário popular. Uma diz que a imagem representa Tristão Gomes Pinheiro “enraivecido contra o Duque D. Afonso, por este lhe embargar a obra da sua Casa-solar e não lhe deixar altear mais as torres, para não lhe devassar os Paços Ducais”.

    Uma outra tradição, bem mais simbólica e romanceada, diz-nos que aquele Barbadão significa “Tristão Gomes Pinheiro protestando vingança contra um Cavaleiro dos Paços dos Duques que manchara a dignidade da sua filha”

  6. Lenda de Maria Fidalga

    A lenda de Maria Fidalga faz parte da tradição oral portuguesa ligada ao Monte d’Assaia, no concelho de Barcelos e a sua história passou entre o Souto e Fonte Velha na encosta deste monte nos séculos XVI ou XVII.

    Segundo a lenda, um certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel da sua mulher e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama de Maria Fidalga, uma feiticeira reconhecida, já lá tinha chegado, o fidalgo, acompanhado de um criado procura a famosa bruxa no Monte d’Assaia para desvendar o caso.

    Chegado a Laje dos Sinais no Monte d’Assaia é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia do próprio Diabo a informação desejada. O fidalgo aceita e a bruxa preparalhe dormida e aguarda a meia-noite. Tem então lugar o oráculo, o Diabo informa a Maria Fidalga que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar e obriga a confirmar as suspeitas sobre a infidelidade da esposa.

    Por artes do próprio Diabo, o criado que por se quer agasalhar contra o frio da noite ficou na proximidade da lareira da cozinha e por uma frincha do tabuado, presenciou a conversa entre o Diabo e Maria Fidalga. Na manhã seguinte, a bruxa contou tudo ao fidalgo como o Diabo lhe tinha ordenado. O fidalgo partiu a galope para se vingar da traição. O criado, por sua vez, meteu rapidamente os pés a caminho para evitar que seu mestre cometesse um injustiça e salvar a ama. Depois de muito esforço, conseguiu alcança-lo. Cansado e furibundo, sentenciou o fidalgo;

    - Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar o anel.

    O criado depois conta ao fidalgo tudo que ouviu. Chegam a Arcos de Valdevez, estripam o porco e aparece o anel. Então com a mesma rapidez o fidalgo regressa ao Monte d’Assaia e no local prende a Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a da Fonte da Pegadinha até à morte na Laje dos Sinais. A forma da tal ferradura era visível junto à Fonte da Pegadinha como também a sua própria estrutura serve para marcar o sítio do início do seu sofrimento.

  7. Lenda do Penedo do Ladrão

    Cerca de uns 3 km de Abade de Neiva, quando a estrada atinge o ponto mais elevado da subida, entra numa garganta formada pelo monte de S. Mamede e pela Portela do Ladrão. Desviando nesta garganta e subindo uns metros do monte, acharemos a célebre memória do penedo assim chamado. É um grande bloco de granito com uma espécie de reentrância no cimo, assemelhando-se a uma cama, e de onde o ladrão que o batizou vigiava a presa.

    Segundo a lenda:

    "...... O malogrado gatuno da triste memória: sucumbiu ás mãos do sexo fraco. Uma mulher ia de cesto à cabeça levar o almoço ao homem, em trabalhos nas proximidades quando lhe saiu o ladrão. Ela que mal ganhara para o susto, ofereceu-lhe a única coisa que lhe ocorreu e parecia aceitável no momento – a cabaça do vinho. O ratuço não se mostrou de cerimónias e, aproveitando a oferta, começou por entornar regaladamente nas goelas sedentas o vinho da cabaça. A mulher, rápida que nem um Gamo, enterrou a faca do pão no pescoço do valente que por certo já teria enfrentado perigos maiores... "

  8. Lenda do Areal de Caíde

    Reza a tradição que esta lenda advém dos seguintes factos:

    “......Ao sul da Barragem de Penide, na freguesia de Areia de Vilar, estende-se um enorme areal, com fama de ter sido outrora uma Quinta, cujo dono, mau e severo, a deixou em legado a uma matilha de cães. Mas por castigo de Deus o rio “ a levou”, reduzindo o sítio a um extenso areal a que ficou a Quinta foreira aos cães...”

  9. Lenda da Senhora da Aparecida

    Na freguesia de Balugães encontramos a Capela de Nossa Senhora da Aparecida que foi construída após a aparição da Virgem Maria a um jovem que era conhecido por João Mudo. Conta a história que, a Virgem Maria revelou-se a um jovem que se chamava João Alves e que era mudo.

    Nesta aparição, Nossa Senhora curou o jovem da sua deficiência e pediu que lhe fosse erguida uma capela naquele local em memória deste milagre. Assim, o pai de João Mudo construiu sobre o penedo sagrado um pequeno templo, com a porta virada para Sul, em direcção ao escadório, para satisfazer o pedido de Nossa Senhora.

    Ainda a propósito desta capela, conta ainda uma crença popular curiosa sensivelmente a meio da capela «existe um corredor (gruta) muito baixo e estreito, cavado no penedo, pelo qual, segundo é crença geral, só pode passar quem estiver em graça (sem pecados).

  10. Lenda do Frade e o Passarinho

    Reza a tradição que :

    “... Em tempos muito afastados aconteceu de um frade, enquanto rezava o ofício no coro, Ter a sua atenção despertada pelo seguinte versículo da Salmodia : «« Mil anos à vista de Deus são como o dia de ontem que já passou »». Não entendia o frade o significado, pelo que, no fim orou com mais fervor a Deus para que lhe fizesse entender. Saindo do coro e ao passar no claustro do convento, ouviu o canto de um passarinho que o fez parar.

    Em breve aquela avezinha se mudou, pelo que o monge a seguiu na esperança de a poder ouvir por mais um tempo, os seus aprazíveis cantos. Já um pouco afastado, perdeu de vista a ave que o encantara, facto que lhe causou muita tristeza e exclamou «« Óh passarinho da minha alma, que tão belo e tão breve foi o teu cantar !»».

    Em seguida regressou ao convento, porém reparou que a porta já não era no mesmo sítio. Achou tudo demasiado diferente e, ao bater, até o guardião do convento lhe parecia extremamente diferente:

    - Quem bate e o que deseja, perguntou-lhe o Guardião?

    - Responde o Frade « Um irmão e humilde frade deste convento.

    - Como, se cá não falta ninguém - respondeu o guardião.

    - Falta sim ainda à nadinha saí no encalço de um passarinho, cujo o canto eu quis ouvir. Segui-o até à orla da mata e, tão logo se calou, me tornei ao convento. Como pois não me conheceis?! É verdade também não vos conheço !!

    Foi o porteiro chamar o D. Abade a quem narrara, intrigado o caso. Este não se surpreendeu menos e postos a desvendar o mistério, consultando livros e registos, deles constava o desaparecimento de um frade, mas sobre o qual já haviam passado 300 anos. Nunca mais dele houvera rastos ou noticias. Foi então que por mais diligências, concluíram. Ter sido aquele para quem miraculosamente trezentos anos se passaram num momento. Assim ele compreendeu que para deus não há diferença de tempo.

  11. Lenda ” Os Principais de Vilar de Figos ”

    Como lenda contamos um facto relacionado com o Castelo de Faria e que dera aos habitantes de Vilar de Figos o honroso apelido de principais. Sabe-se que em velhos registos da paróquia esse designação existe, embora se desconheça a extensão dela, isto é , se para todos os habitantes ou para descendentes apenas dos velhos “principais”

    “..... O caso foi que os árabes se apossaram, em tempos remotos do castelo. Os cristãos tentavam a conquista tornada impossível pelo denodo com que os sitiados se defendiam. Recorreu-se então ao estratagema que a luminosa Ideia do povo de Vilar de Figos suscitou: pelos campos e encosta daquele lado fariam subir, de noite, um grande rebanho de cabras (Podiam ser mesmo carneiros) com luminárias atadas aos chifres. Se bem o pensaram, melhor o fizeram.

    Os árabes notaram pela noite escura, aquela aproximação de tanta gente que vinha, por certo em reforço dos sitiantes. Perante a superioridade provada do inimigo abandonaram o castelo e foram-se.

    E assim, porque os moradores dessa freguesia mais contribuíram para a tomada do castelo, ficaram a ser conhecidos e nomeados por os Principais de Vilar de Figos.

  12. Lendas das Cobras Mouras

    Ao penedo do Monte da Saia anda associada uma crença, que nos diz que os pré-históricos, guardaram dentro do penedo um tesouro em ouro. Para ter acesso a este, terá que se ler o livro de S. Cipriano de “lés a lés” sem parar, se conseguir tal feito o penedo abre-se e o tesouro fica na posse do feliz contemplado. Caso contrário o “Cobras” mouras, guardiãs do tesouro poderão por cobro à vida do dito candidato. O aparecimento de cobras de enormes dimensões, deram ainda mais aso a esta crença. (Segundo relatos populares)

  13. Lenda do Castelo de Faria

    A já desaparecida fortaleza medieval conhecida por Castelo de Faria, nos arredores de Barcelos, foi palco de uma história desencadeada pelo amor entre o rei D. Fernando e a bela Leonor Teles.

    Na verdade, estava D. Fernando para desposar a filha do rei de Castela quando se apaixonou por Leonor Teles, quebrando o compromisso que tinha assumido. Despeitado, o rei castelhano desencadeou uma guerra contra Portugal, cercando Lisboa e muitas outras terras. O Minho foi invadido pelo adiantado da Galiza, D. Pedro Rodriguez Sarmento, que se bateu com D. Henrique Manuel, tio do rei português, nos arredores de Barcelos. Os portugueses foram derrotados e entre os reféns ficou D. Nuno Gonçalves, alcaide-mor do Castelo de Faria. No seu cativeiro, receava D. Nuno que o seu filho entregasse o Castelo de Faria logo que visse o pai refém dos castelhanos e, por esse motivo, urdiu um estratagema que o evitasse. Pediu então ao galego D. Pedro que o levasse até aos muros do castelo para convencer o filho a entregar a fortaleza sem resistência. Chegados ao castelo, D. Nuno pediu para falar com o seu filho, D. Gonçalo, e exortou-o a defender-se a custo da própria vida, amaldiçoando-o se não cumprisse as suas ordens. Os castelhanos, vendo-se traídos, mataram logo ali o velho alcaide e atacaram o castelo. A luta foi renhida e dolorosa para os portugueses que perderam muitos dos seus homens, mas D. Gonçalo, lembrando-se da maldição do pai, resistiu orgulhoso, levando os inimigos a desistir. D. Gonçalo, apesar de premiado pela sua coragem, pediu ao rei D. Fernando autorização para abandonar o cargo de alcaide e tornou-se sacerdote.

  14. Lenda da Rainha Santa Isabel

    Há muitos anos a Rainha Santa Isabel, numa das suas peregrinações a Santiago de Compostela, passou no monte desta freguesia.

    Ela vinha muito cansada e cheia de sede. Parou, bateu numa pedra e disse:

    - Daqui sairá água.

    Dali a um pouco saiu água e ela bebeu.

    Em seguida deitou-se debaixo dum carvalho a dormir.

    Quando ia seguir viagem olhou à sua volta, viu tanta pedra e exclamou:

    - Ui tanta fraga! Que terra tão fragosa!

    A partir desse momento esta freguesia começou a chamar-se Fragoso.

    A fonte onde a rainha bebeu passou a chamar-se Fonte da Virtude.

    Ainda hoje as pessoas da aldeia, na noite de S. João tomam banho num tanque que existe junto da fonte. E durante muitos anos as pessoas iam buscar água para levedar o pão e curar doenças.

  15. Lenda da Mulher Morta

    Certo dia no final da tarde aproximava-se do Mosteiro de São Pedro de Rates um carro puxado por uma junta de bois. Os dois lavradores, pai e filho, pretendiam, chegar ao nascer do dia à Feira de Barcelos, com os produtos que levavam no carro.

    Ao passar junto de uma pequena estalagem, para dar de comer aos animais e beberem uma malga de vinho, encontraram peregrinos que aí pretendiam pernoitar antes de se lançarem ao caminho de Barcelos e de Santiago. Como a noite caía o estalajadeiro perguntou-lhes se ali dormiam e perante a resposta negativa, avisou-os para terem cuidado em aventurarem-se de noite pelos caminhos que passavam no Alto da Mulher Morta. Curiosos perguntaram o que de mau havia por aquelas paragens:

    - É carneiro preto que por lá aparece fora de horas. Um dia morreu ou por lá mataram uma mulher e desde então é sitio excomungado.

    Os dois lavradores não eram medrosos e avançaram caminho e noite dentro. Ao avistar o pinhal do desassossego puseram-se em frente aos bois que começavam a dar sinal de inquietação. Metros andados, estacaram e por mais tentativas, simplesmente não se mexiam. De repente, viram o carneiro preto no meio do caminho, com pelo sedoso, escuro, narinas fumegantes e olhar fixo nos intrusos.

    - E agora? - exclamou o filho.

    - Não ouviste o vendeiro? Acalma-te, eu trato deste estafermo.

    O velho lavrador bradou em voz forte:

    “Água benta de sete bicas

    Água de sete fontes

    Sangue de sete galinhas pretas

    Terra de sete sepulturas

    Padre Nosso. Avé Maria”

    Mal o velho acabou as últimas palavras, um enorme estrondo ribombou na pacatez do pinhal. O carneiro desatou à desfilada monte dentro e no ar ficou um cheiro a enxofre.

    - Desta livramo-nos nós! - disse o pai – Com a benção de Deus.

    E seguiram para a Feira em Barcelos.

    Na volta construiram um Tosco Cruzeiro de pedra no local onde tudo tinha acontecido e desde essa altura nunca mais por ali apareceu o carneiro preto.

  16. Lenda da Lagoa Negra

    Em Barqueiros, uma freguesia do concelho de Barcelos, há um lugar chamado Lagoa Negra, onde existe uma pequena lagoa rodeada de lindíssimas flores. A esta lagoa está associada a seguinte lenda:

    Conta-se que três mil anos antes do nascimento de Cristo, o rei Salomão, que era rei da Palestina, mandou construir um magnífico templo, como tinha pedido seu pai. Como naquelas terras não havia ouro e ele precisava de muito para decorar o templo, mandou o rei da Fenícia ir à procura de ouro em terras distantes.

    O rei da Fenícia reuniu um pequeno exército e foi mar acima à procura de ouro. Ancoraram na foz do rio Cávado, onde se encontra atualmente Ofir, na freguesia de Fão.

    Desembarcaram com as suas ferramentas e foram à procura de ouro. Ao fim de alguns dias encontraram ouro num ribeiro onde fica hoje a Lagoa Negra. Contrataram um grupo de trabalhadores e começaram a abrir minas à procura de ouro.

    Um dia encontraram um lençol de água que tapou toda a mina e afogou os trabalhadores. Ao meio-dia, as mulheres deles foram levar-lhes o almoço e encontraram a mina submersa. Em voz muito forte gritaram:

    - Maldita! Engolistes os nossos homens! De hoje em diante vais chamar-te “Lagoa Negra”.

 

 

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